quarta-feira, 18 de julho de 2012

Desonrada - Um projeto de resenha



Sexta-feira à noite, tempo frio e chuvoso e eu entediadíssima sem nada pra fazer.  Eu até tinha um monte de coisas pra fazer, mas não estava afim de nada.  Sabe, quando você fica com o tédio mode on mesmo?  Então... Abri 3 jogos e desisti, não estava afim de ver filme, série, nem ler um livro, pensei eu.  Daí comecei a fuçar em uns arquivos perdidos no micro e achei um com livros em pdf e no Word mesmo e vi um que eu estava com vontade de ler a tempos mas faltava coragem.  Desonrada. Abri o arquivo e vi, oba, só 114 páginas. A curiosidade venceu a preguiça e comecei a ler.  

Enchi a paciência do Raphael. Um fato ruim sobre mim é que lendo um livro (de não ficção, normalmente) ou um filme, eu não calo a boca! Huahuahuaha Começamos a conversar sobre as tradições de regiões que seguem o islamismo. (Um parênteses longo aqui, não sou especialista no assunto e alguém me corrija se eu estiver errada, mas pelo que eu entendi, o muçulmano é quem segue o islamismo! É que eu mesma fui ver sobre isso porque acho confuso pakas), daí quando engrenei no livro, fiquei nos blá blá blá surpresos,  com ele jogando e eu na cabeça dele, Rapha, olha isso, não acredito, e ele muito educado como sempre, sério amor? Nossa, não sabia.  Quando no fundo, deve ficar louco comigo! 

Enfim, detalhes à parte, cerca de 3 horas depois estou eu, atônita, lendo a última página do livro.
Como eu sei que quase ninguém vai querer disponibilizar tempo para ler a história, vou resumi-la abaixo, mas antes falarei um pouco sobre como é a cultura lá. 

Este livro é autobiográfico, conta a história de Mukhtar Mai, com a colaboração de uma jornalista francesa chamada Marie-Thérèse Cuny, já que como a maioria esmagadora das mulheres no Paquistão, Mukhtar não sabia ler nem escrever.

No Paquistão, e não só lá, existe o que eles chamam de castas. Que seria uma espécie de separação ou delimitação entre classes sociais. Não é tão simples como classe A e B, aqui para nós. Acho que seria melhor entendido como, me perdoe a péssima analogia, nós tivéssemos uma hierarquia, com presidente e operários. Imagine que eles acreditem em coisas diferentes e que não é democracia e não são somente essas duas divisões, creio eu. O presidente manda e os operários obedecem. Existe a casta superior e a inferior. Nós, “ocidentais”, já nos deparamos com isso. Basta ter como exemplo o nacionalismo extremo do nazismo. Os arianos, seres humanos superiores e os judeus que nem eram considerados seres humanos. É mais ou menos assim que eles vivem. O que a casta superior decide, a casta inferior faz. Não existe interação nem insubordinação sob risco de retaliação e morte. É uma relação baseada na submissão, em honra, em tradições antigas, em vingança. Lá impera o olho por olho.

E no fundo de tudo isso, estão as mulheres. Elas não freqüentam as escolas. Não sabem ler e escrever. A partir dos 6 anos, ajudam nas tarefas domésticas e de sustento da casa. Não são autorizadas a falar com os adultos, não podem falar com meninos, nem brincar com os próprios primos, por exemplo. Quando mais velhas, não podem, em hipótese alguma, olhar para um homem ou falar com ele; ao passar por um, elas precisam baixar os olhos. São vítimas de casamentos arranjados, muitas vezes prometidas a famílias, mesmo antes de nascerem. Por motivos religiosos, financeiros, políticos, enfim por interesses entre a família da noiva e do noivo. No Paquistão, a mulher não pode escolher se casar por amor. Ou seja, ela não pode escolher com quem casar. Sob o risco de ser julgada e condenada por adultério – por ter sido prometida a outro, entre outras coisas -, pena de morte lá. Quando não matam a mulher que escolhe esse caminho, matam o homem que “desonrou” a família dela. Elas aprendem algumas coisas básicas e que regem as suas vidas. Silêncio, submissão e respeito pelo homem. Seja pai, irmão, marido, conselheiro espiritual da aldeia, enfim a qualquer um. 

Em geral, uma mulher nessas regiões vale menos que uma cabra. Ela é usada para apaziguar, como objeto de troca ou ressarcimento. Ela nunca toma parte nas decisões e só é informada quando deve fazer algo. Por exemplo, seu casamento é data tal, vá até tal lugar e faça tal coisa. É assim que funciona.  E as mães não conversam com as filhas, só dizem como devem agir, faça isso, não faça isso. Elas vão para o casamento sem qualquer noção de nada, de sexo, do que devem fazer, só sabem parir porque elas também ajudam as irmãs e etc. e que devem obedecer e servir o marido e os futuros filhos homens. 

Lá, eles meio que vivem entre três sistemas. O legal (governo – que envolve advogados, extremamente dispendioso e que a maioria da população não tem a menor condição de bancar e ter acesso), o religioso (que oficialmente rege tudo) e a Jirga. A Jirga é uma reunião com pessoas de ambas as castas de uma aldeia. Ou seja, são pessoas que tentam organizar o funcionamento de uma aldeia ou região. Eles fazem negociações (não justiça, que fique claro), entre famílias que estão com problemas, para evitar que elas se tornem inimigas. Eles resolvem os chamados, crimes de honra. Exemplos (Reais!!!!). Duas famílias vizinhas começam a brigar porque o cachorro de uma delas late muito. O fulano da família x acaba matando o ciclano da família y. Eles chamam a polícia? Não. Alguém vai preso ou julgado? Dificilmente. A jirga entra em ação e negocia um trato com as famílias. A família x dá 2 garotas para a família y como forma de compensar e pedir desculpas pelo que ocorreu. Uma de 11 e outra de 6 anos. A de 11 foi dada a um homem de 46 anos e a de 6 para um menino de 8! É assim que funciona para tudo.  No geral, a punição (ou arranjo) vem para uma mulher de três formas.  Estupro coletivo, ao ser vítima disso é socialmente esperado que a mulher ao ter perdido sua honra se suicide. Dada em casamento. Apedrejamento. A Jirga na prática se transformou num organismo com vida própria, interessada em negociações e agindo completamente à margem da religião e das leis do Islamismo e do que prega o Alcorão.

Ok, então esse é o panorama geral da cultura de uma região afastada da capital e do centro urbano no Paquistão.
Um trecho inicial e simples que resume um pouco tudo.
Se você quiser ler o livro, pare de ler aqui, spoiler:
Sou eu, Mukhtaran Bibi, da aldeia de Meerwala, da casta dos camponeses Gujjar, que terei de enfrentar o clã da casta superior dos Mastoi, agricultores poderosos e guerreiros. Terei de pedir-lhes perdão em nome da minha família.
Perdão pelo meu irmãozinho Shakkur. A tribo dos Mastoi o acusa de ter “falado” com Salma, uma menina do clã deles. Ele tem apenas 12 anos, e Salma já tem mais de 20. Nós sabemos que ele não fez nada de mal, mas se os Mastoi decidiram assim, nós os Gujjar, temos que nos submeter. Sempre foi assim.”

No caso dela, o irmão sumiu, descobre-se que foi preso, espancado e sodomizado e é montada uma armadilha para ela, uma mulher de 28 anos, honrada e respeitada na aldeia, ir diante dos acusadores para pedir perdão publicamente. No entanto, eles nunca pretenderam perdoar a família, pois nada realmente aconteceu e diante de todo mundo, a arrastam para um alojamento próximo e durante horas, 4 homens se revezam em estuprá-la. Horas depois ela é jogada, com as roupas rasgadas, machucada, no meio da rua. 

Inicialmente, ela pensa em se matar para limpar a honra da família. Mas aos poucos um sentimento de raiva e revolta se apodera e ela consegue se agarrar a vida com um desejo de vingança e de justiça.  Quando sua família consegue, finalmente, juntar o dinheiro exigido pelo clã superior para entregar à polícia para soltar o irmão, ela é perguntada pelos policiais se tudo está bem. Nesse momento, ela decide lutar.  Acredito que ela deu sorte porque a família, o núcleo dela pelo menos, apoiou-a. A polícia monta um relatório falso eximindo todos os culpados e a faz assinar com a digital de seu polegar. O que a prejudica muito durante o processo todo porque é acusada de mentir.

A história conta todo o martírio pelo qual ela passou. A dor, a humilhação, a luta, verdadeiras peregrinações que ela fez a tribunais, delegacias, organizações, etc. A sorte que ela teve do caso dela ter parado na mídia. As tentativas de tudo ser acobertado e diminuído pelo próprio governo que deveria protegê-la, já que as práticas que ela sofreu são oficialmente proibidas.
Ela foi acusada de tudo; de interesseira, de ter uma conta bancária, de ter querido ser estuprada, de terrorismo contra o governo, de querer fama, manchar a imagem do país e infindáveis coisas mais. Mas sempre se manteve e se mantém firme até hoje. 

Quando ela finalmente conseguiu levá-los à justiça, uma corte internacional declarou os 6 principais suspeitos, culpados e condenados à morte. Eles entraram com recurso e um segundo tribunal converteu a pena de 1 para prisão perpétua e inocentou os outros acusados por falta de evidências e inconsistências na investigação policial. Houve novo apelo, por parte dela, e mais um julgamento, adiado até abril do ano passado, 2011. Onde se manteve a decisão de prisão perpétua para um e inocência para todos os outros acusados. 

(Devido a uma lei no Paquistão, um estupro só é provado se for confessado pelo ou pelos acusados e/ou se for confirmado por 4 (quatro!) testemunhas oculares, honrosas, confiáveis, respeitáveis e seguidoras do Alcorão). Como os 4 que a estupraram jamais confessaram e ela foi levada para longe dos olhos das pessoas da aldeia, a Suprema Corte decidiu descartar o registro de todas as testemunhas e se baseando nos buracos da investigação, devido aos anos decorridos (fato ocorrido em 2002, julgado em 2011), a corrupção, a alegação de inocência dos acusados e mais importante, da alegação, de uma banca composta por juízes, que estava escuro, à noite, e que a mesma não poderia ter habilidades para reconhecer e ter certeza de que aqueles 4 homens eram culpados.

Com todo esse absurdo, do início ao fim, o governo não só não a ajudou como acobertou e acoberta todos esses e outros crimes hediondos que ocorrem dentro do seu território com a escusa e infame desculpa de manter uma imagem perante o mundo. É tão descabido que para mim não faz nenhum sentido. 

Agora a vida de Mukhtar continua difícil como sempre foi. Ela manteve a escola que criou e com ajuda estrangeira de ONGs e empresas, criou novas escolas e é detentora da única escola para garotas em toda a região onde mora e arredores. Vive com medo, pois seus carrascos estão livres e moram a cerca de 100 metros de sua casa e de sua primeira escola. Acabou se tornando a segunda esposa do policial que primeiramente tirou seu depoimento, por pressão dos familiares. E em dezembro de 2011 deu à luz a um menino.

Eu realmente espero que essa realidade, tanto lá como em outros países, um dia mude. Que essa esperança não seja uma utopia e que a luta dela não tenha sido em vão. No link abaixo, conta um pouco da história dela e no final há 3 endereços. Dois deles são e-mails onde pessoas do mundo todo mandam seu apelo ao governo paquistanês para que reabra o seu caso e que haja novo julgamento. Se quiser, faça sua parte! Não custa nada, perto do que ela fez!



quinta-feira, 5 de julho de 2012

1 ano!!!

 

1 ano juntos!!!! Raphael, você não faz idéia do quanto é importante e essencial na minha vida. Me faz sentir apaixonada todos os dias. Me faz sentir querida, bem, amada, protegida. Me mostrou o amor sem dor. Me ensinou que eu não preciso sofrer por amor(!!!). Um amor que é paixão e brasa mas que também é tranquilo. Uma escolha emocional e racional, um equilíbrio que eu não sabia existir. Que esse seja o 1º de infindáveis e maravilhosos anos. Que eu possa sempre ser seu bálsamo, sua companheira, sua força, sua amiga, sua namorada, sua amante, sua noiva e sua futura esposa. Que eu possa ser sua fonte de risos e que se for preciso chorar que seja comigo e nunca por minha causa. Que seja eterno enquanto dure, com o perdão do clichê, e que dure para sempre. Que compartilhemos a vida juntos, enquanto fizermos bem um ao outro e que o façamos sempre. Amo você! Из глубины моей души!