quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Um lugar para o coração.

Eu não estou, hoje, devidamente habilitada para escrever algo decente. Porém, certas situações nos pedem um esforço. Perdoem-me pela opacidade do texto.

Esse texto é para uma pessoa muito especial para mim, que apesar do meu coração não ter lugar, tem um lugar no meu coração. (Me perdoe pelo trocadilho infame! hauhhauah)


Ás vezes é muito fácil pensar em sensibilidade como um defeito. Como uma fraqueza, uma debilidade. Eu penso isso e muitas pessoas também. Mas daí paro e tento ser imparcial e ter empatia com o adjetivo: sensível. 

Em um mundo em que as pessoas passam umas por cimas das outras, onde tem sempre alguém querendo te ver por baixo e puxar seu tapete, passar à sua frente, conseguir o que é seu, tirar o que você tem, nem que seja pelo subversivo prazer de te ver sem nada, será que ser sensível é tão ruim assim?

Afinal é a insensibilidade, aliada a outras características, que permite que em regiões da África - por exemplo -, sejam cometidas atrocidades das quais nós só imaginamos.

Não que insensibilidade e egoísmo sejam a mesma coisa, mas no geral, andam juntos e somente uma linha tênue os divide.

Eu mesma posso usar o poderoso e convincente argumento de que ser sensível dói. E muito. Traz diversos problemas que não existiriam caso fossemos um pouco mais duros. O pior de tudo é ter que aguentar as pessoas falando que você é emotivo, manteiga derretida, etc.

Porra,  foda-se uma pessoa ser sensível. Alguém sabe porque ela é assim? Alguém sabe se ela escolheu ou pôde escolher? Alguém sabe o que ela passou? Falam e apontam isso como uma fraqueza. Mas peraí, não é bem assim!!

É só assistir um jornal, as notícias umas atrás das outras, se atropelando e interpondo. Noticiam a morte de alguém e 10 segundos depois falam sobre a festa do tomate em alguma cidade da Espanha. Sei que isso é inevitável, muita tecnologia, muita informação, pouco tempo; mas será que estamos errados em nos prender um pouco mais à morte daquela pessoa, por exemplo? Refletir naquilo, antes de mudar nosso pensamento para algo mais mundano?

Eu não sei até que ponto estou sendo clara, de qualquer forma, não estou defendendo a melancolia ou o apego às coisas tristes, mas sim reter um pouco nossos pensamentos, nem que seja por respeito ou por compartilhar nossos sentimentos com outro ser humano ou outro ser vivo. Pode parecer piegas, mas não vejo outro modo de explicar.

Eu fugi um pouco do assunto que eu queria escrever mas acho que isso também fazia parte. Enfim, o que eu queria mostrar é que pessoas mais sensíveis estão mais expostas as coisas, assim como alguém com imunidade baixa tem mais chances de pegar uma gripe.

Essa exposição traz uma dor profunda e uma percepção aguçada de fatos da vida que a maior parte das pessoas não percebe conscientemente. Acho que a questão é essa, não é somente questão de dividir as pessoas entre inteligentes ou burras, mas sim quanto delas se predispõe a perceber a vida e suas reminiscências. As suas entranhas e as engrenagens que, invejosamente, vejo funcionando em tantas pessoas, como se fosse automático. Incompreensível para mim, porém, a sensibilidade (e não só ela - mas digamos que ela seja o carro chefe) nos mergulha dentro de nós mesmos e dos outros.

Enquanto os peixes nadam próximos à superfície do mar, nós somos os monstros das profundezas, aqueles com olhos gigantes ou com antenas sensíveis ao movimento para conseguirem se locomover no mais profundo abismo oceânico e no mais puro breu. Aí, você me pergunta, quem é melhor? E eu respondo: Nenhum dos dois.

Só sei que sofremos mais, mesmo por coisas aparentemente simples, sofremos por nós e por quem nos importamos, somos pessoas empáticas, por vezes sentimentais, inseguras.

E principalmente: sem porto. Procuramos um lugar para chamarmos de casa, de lar. E por vezes, nenhum lugar nos dá, nos demonstra abrigo. Ninguém nos aconchega. Ninguém nos entende.

Não há explicação, não há desculpas, não há justificativas, não há porquês, nem de nós para nós mesmos. O mesmo coração que nos traz tantas derivações, questionamentos e que é amante da filosofia, apunhala a si mesmo, borbulhando milhões de perguntas que não tem resposta.

Eu queria ter uma resposta ou apontar um caminho. Poderia até dizer que só você será capaz de achá-lo, mas tudo que posso, sinceramente, dizer é: eu não sei. Posso te e me ajudar a tentar.

Não pertencemos a esse mundo. Mesmo que eu não seja digna de entrar no outro. 

4 comentários:

  1. Eu sempre vejo você como alguém que caminhou tanto, tantas vezes e se cansou tanto, e se renovou tanto e já aprendeu tanto, que agora vive com parte do corpo na terra e parte dele no céu, ou numa nova terra, ou num universo paralelo. A sua facilidade de entender o outro, de captar seus sentidos é extraterrena. O mais incrível e saber escrever sobre o que se sente e se vê no outro; uma articulação que salvou a minha tarde. Talvez todas as outras tardes que eu possa viver daqui para frente.

    ResponderExcluir
  2. "Ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados". (Shakespeare)

    ResponderExcluir
  3. Tabita disse...

    "Ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados". (Shakespeare)


    Saudades disso...

    ResponderExcluir
  4. seis anos depois e de novo seu texto me salvou. Eu não vou mudar pra doer menos, ou pra me fazer inteligível pros outros. Obrigada por essa resistência e resiliência. Tamo junto! Quem sabe algum dia os extraterrenos nos juntem todos num mesmo lugar, menos apático e hostil.
    "O mesmo coração que nos traz tantas derivações, questionamentos e que é amante da filosofia, apunhala a si mesmo, borbulhando milhões de perguntas que não tem resposta."

    ResponderExcluir